Literatura de cordel
Esmeralda Costa
Mestre na sala de aula
Foi na arte grande farol
Professor de mil talentos
Com poesia e com rol
De saberes populares
Passou por muitos lugares
Encantou feito arrebol.
Ao lado da sua amada
Lourdinha, parceira e flor
Juntos fizeram caminhos
De cultura e de amor
Antologias em mão
Revelando a união
Em versos de muito ardor.
Na feira e na Bienal
De palhaço ele surgiu
Entre risos e poemas
Com ternura ele sorriu
Nas escolas, no teatro
Fez do riso um grande trato
E o povo todo aplaudiu.
No jornal Vida Brasil
Sua voz atravessou
Do Ceará para o mundo
O seu legado ecoou
Na Suíça fez morada
A cultura tão amada
Que ao cordel tanto honrou.
Com Patativa no peito
Fez da luta uma missão
Do Jangurussú cantou
Com denúncia e emoção
Artista batalhador
Deu sua voz, seu amor
Com toda dedicação.
Foi palhaço, foi amigo
Sempre soube acolher
Fez do riso resistência
Do sofrer, um renascer
Na poesia, um alento
Transformou o sofrimento
Em motivo pra viver.
No Congresso e na Feira
Seu talento reluziu
Entre autores e leitores
Com coragem, ele riu
Fez da cena um manifesto
Do sorriso, mais modesto
De quem nunca desistiu.
Foi na sua amada terra
Que ouviu o trabalhador
Catadores, toda gente
De um destino sofredor
Deu ao povo uma esperança
Com a força da lembrança
E com versos de valor.
Foi bandeira levantada
Pra cultura e pro saber
Levou livros, fez encontros
Ensinando a florescer
Cada sonho reprimido
Cada rima com sentido
Pra quem quisesse aprender.
Quem com ele conviveu
Sabe bem o que é paixão
Por um livro, uma criança
Ou pela arte em profissão
Com seu jeito tão humano
Deixou rastro soberano
De ternura e gratidão.
Desde cedo foi assim
Menino de olhar atento
Brincadeira e poesia
Misturando o sentimento
No quintal, versos nasciam
E as palavras se uniam
Feito riso e pensamento.
Na ACLC guerreiro
Sempre pronto pra lutar
Defendendo o cordelista
E o direito de sonhar
Com colegas, com irmãos
Teceu laços, deu às mãos
Fez do verso o seu lugar.
Aos poetas mais recentes
Deu espaço e proteção
A sua mão estendeu
Fez convite e inclusão
Cada jovem que chegava
Com ternura ele abraçava
Feito um mestre na missão.
Com Abelardo e amigos
Hoje habita outro lugar
Mas aqui ficou a herança
Da cultura popular
No sarau e na calçada
Sua história é celebrada
Feito luz a cintilar.
A sua ausência é saudade
Mas também inspiração
Pois Bandeira, com seu riso
Transformou cada estação
No festivo mês de junho
O cordel dá testemunho
E lhe rende exaltação.
Hoje a classe dos poetas
Se reúne em oração
Cada um com sua pena
Derramando a emoção
Nos cordéis e nas memórias
Vão ficando suas glórias
Seu legado e paixão.
Lá no céu, entre os amigos
Tem festa e tem poesia
De palhaço e de poeta
Com risada que irradia
Ao lado de Patativa
A voz permanece viva
Ecoando em melodia.
Nas escolas e nas feiras
Nas praças, no coração
Marcos segue em cada verso
Em cada declamação
Na criança que sorria
Na plateia que aplaudia
Fica a sua devoção.
Sua Lurdinha querida
Sabe o bem que ele lhe fez
Foi parceiro, foi amparo
Foi sorriso e altivez
E mesmo ele estando ausente
Viverá eternamente
Em cada rima outra vez.
Por isso, a nossa bandeira
De saudade vai tremendo
No alto da poesia
Seu nome vai florescendo
Pois poeta verdadeiro
Não se apaga, é mensageiro
De um amor que vai crescendo.
Nos encontros literários
Sua voz sempre ecoou
Na ciranda dos poetas
Com firmeza ele ficou
Foi sorriso, foi alento
Foi palavra, foi talento
Que a cultura levantou.
Cada história que contava
Tinha um traço de ternura
Se era riso, era profundo
Se era dor, era bravura
Transformou seu dia a dia
Em versos com harmonia
Em defesa da cultura.
Desde a infância esse menino
Quis o mundo a colorir
Com papel, com poesia
Começou a construir
Esse dom de ser artista
Humanista e cordelista
Ensinando a repartir.
Nas ruas de Fortaleza
Fez amigos, fez canções
Distribuiu alegria
Nos encontros, reuniões
Fez do abraço uma ponte
De esperança um horizonte
Conquistando corações.
O palhaço que vestia
Era mais que figurino
Era um gesto de cuidado
Ao adulto e ao menino
E por trás da maquiagem
Tinha amor, tinha coragem
De enfrentar qualquer destino.
Cadeira número seis
Deixou marcas de valor
Com o nome de Bandeira
E com o brilho do amor
Seu patrono lá no céu
Já foi tirando o chapéu
Pra acolher seu seguidor.
A cultura brasileira
Foi seu norte, seu lugar
Resgatando tradições
Que o tempo quis apagar
E deu voz aos esquecidos
Deu espaço aos excluídos
Fez do povo o seu cantar.
Em cada manhãs de sol
Também nas tardes de inverno
Seu olhar tinha um brilho
De ternura tão eterno
Quem ouviu sua poesia
Leva a doce companhia
De um legado tão fraterno.
Lá nas feiras e nos palcos
Onde o riso florescia
Marcos foi aquele mestre
Que o povo todo queria
Com seu jeito tão singelo
Fez do mundo um grande elo
De cultura e de alegria.
A palavra em sua boca
Era fonte de bonança
Quando via um coração
Sofrendo sem confiança
Ele vinha com sorriso
Com um verso tão preciso
Reforçando a esperança.
Na memória dos amigos
Seu afeto vai morar
Cada um leva um pedaço
Do que ele soube doar
Foi presença iluminada
Foi partida inesperada
Que no Céu foi habitar.
E assim o nome Bandeira
Segue firme a tremular
Em estrofes, em projetos
Que ele soube alimentar
Na ACLC, nas calçadas
Nas escolas, nas jornadas
Seu legado vai ficar.